A vegetação do Brasil, compreendida na Zona Neotropical, pode ser dividida, segundo o aspecto geográfico em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico.
No território Amazônico (área ombrófila), o sistema ecológico vegetal responde a um clima de temperatura média em torno de 25ºC e de chuvas torrenciais bem distribuídas durante o ano, sem déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. No território extra-amazônico (área ombrófila e estacional), o sistema ecológico responde a dois climas - um tropical com temperaturas médias em torno de 22ºC e precipitações atmosféricas marcadas por um déficit hídrico, superior a 60 dias no balanço ombrotérmico anual, e um subtropical, com temperaturas suaves no inverno, que amenizam a média anual situada em torno de 18ºC. As chuvas são moderadas e bem distribuídas durante o ano, não ocorrendo, por isso, déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. Contudo, há uma fase de dormência vegetativa, provocada pelas baixas temperaturas dos meses mais frios do ano.
Em cada uma dessas áreas climáticas, deu-se, através do tempo, uma adaptação da forma e do comportamento das plantas às características da estação desfavorável, seja seca ou fria ou ambas simultaneamente.
As plantas brasileiras apresentam-se em todas as formas de vida, conforme a posição e proteção dos órgãos de crescimento em relação aos períodos climáticos, pois o País localiza-se entre 5º de latitude N e 32º de latitude S, com altitudes que vão do nível do mar a mais de 3000 m. Em conseqüência, apresenta condições ecológicas variadíssimas, desde o ambiente equatorial ao temperado do Planalto Meridional, onde chegam a ocorrer nevascas nos pontos mais altos da sua porção sul.
Distribuição da Flora Neotropical Brasileira (IBGE, 1992)
Este estudo fitoecológico foi alicerçado em dois princípios da lógica científica - a deriva das placas continentais e a evolução monofilética dos seres vivos. A hipótese da deriva das placas continentais foi inicialmente atribuída a Weneger, na década de 20, para o período Permocarbonífero e somente foi novamente aceita, sem restrições, após os trabalhos publicados na revista American Geographic, nas décadas de 60 e 70.
Esta reunião de estudos geofísicos e paleontológicos comprovou a existência de dois eventos tectônicos de movimentos de placas. O primeiro corresponde à separação do grande continente da Pangéia, circundado pelo mar de Tetys, em dois continentes menores - o Gondwânia, no hemisfério Sul e o Laurásia no hemisfério Norte. O segundo corresponde ao movimento das atuais plataformas continentais que vem se realizando desde o fim do Período Cretáceo até os nossos dias.
Embora tais eventos paleogeográficos continuem ainda sendo debatidos, o que não mais se discute é a origem monofilética dos seres vivos, pois a evolução das plantas teve, como a dos animais, um tronco biológico único que se dividiu através do tempo.
A vegetação brasileira recebeu, antes da deriva das placas continentais, o concurso de plantas pantropicais que, após este evento, formaram endemismos em famílias, gêneros e espécies, constituindo, assim, os Domínios Florísticos e as Regiões da Zona Neotropical.
A história da Fitogeografia Brasileira iniciou-se com a classificação de Martius em 1824, que usou nomes de divindades gregas para sua divisão botânica. Esta classificação continua até hoje, após tantos anos de tentativas de novas classificações, sem uma definição de aceitação dentro do consenso geográfico brasileiro.
O mapa fitogeográfico de Martius foi anexado por Gisebach no volume XXI da Flora Brasiliensis em 1858 e nele há cinco regiões florísticas:
1.Nayades (flora amazônica)
2.Hamadryades (flora nordestina)
3.Oreades (flora centro-oeste)
4.Dryades (flora da costa atlântica)
5.Napeias (flora subtropical)
Esta divisão florística permanece, pois, além de apresentar ligações filogenéticas bastante confiáveis, foi baseada em coletas botânicas classificadas pelos maiores especialistas da época (VELOSO et alii, 1991).
Classificação de Gonzaga de Campos
Passaram-se 102 anos até aparecer nova classificação fitogeográfica brasileira, que foi a de Gonzaga de Campos (1926), não mais florística, mas sim fisionômico-estrutural.
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Classificação de Alberto J. Sampaio
O botânico Alberto J. Sampaio (1940) divide a vegetação brasileira em Flora Amazônica ou Hylae Brasileira e Flora Geral ou Extra Amazônica. Retoma, do seguinte modo, o conceito florístico para uma classificação fitogeográfica.
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Lindalvo Bezerra dos Santos, em 1943, apresentou uma divisão fitogeográfica puramente fisionômica, acompanhada de terminologia regionalista. Pode-se, assim, considerar esta classificação como a primeira baseada no caráter fisionômico das formações vegetais, segundo o conceito de Grisebach (Veloso et alii, 1991).
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Classificação de Aroldo de Azevedo
Aroldo de Azevedo (1950) usou, em São Paulo, a mesma classificação de L. B. dos Santos, geógrafo do IBGE no Rio de janeiro, como se vê a seguir:
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Classificação de Edgar Kuhlmamn
Em 1960, Edgar Kuhlmamn apresentou nova divisão fitogeográfica brasileira, baseando-se em conceitos climatoestruturais e terminológicos regionais, retornando, assim, a uma divisão de tipos estruturais.
I - Tipos arbóreos
A - Floresta trópico equatorial
B - Floresta semidecídua tropical
C - Floresta de araucária
D - Manguezal
II - Tipo herbáceo
E - Campo limpo
III - Tipos arbóreo-herbáceos ou intermediários
F - Cerrado
G - Caatinga
H - Complexo do Pantanal
I - Praias e dunas
Classificação de Andrade-Lima e Veloso
Andrade-Lima (1966) e Veloso (1966), o primeiro no Atlas Geográfico do IBGE e o segundo no Atlas Florestal do Brasil (Serviço de Informação agrícola – SIA), usaram um novo sistema de classificação da vegetação brasileira. Voltaram a empregar o termo formação para dividir os grupos maiores de vegetação e uma terminologia estrutural ecológica nas subdivisões florestais, seguida da terminologia regionalista para as subdivisões não-florestais (Veloso et alii, 1991):
A - Formações florestais
I - Floresta pluvial tropical
II - Floresta estacional tropical
III - Floresta caducifólia tropical
IV - Floresta subtropical
B - Formações não- florestais
I - Caatinga
II - Cerrado
III - Campo
C - Formações edáficas
Classificação do Projeto RADAM
Na década de 70, o grupo do projeto RADAM, encarregado de equacionar o mapeamento da vegetação amazônica e parte da nordestina, criou uma escola fitogeográfica baseada em Ellemberg e Mueller-Dombois. Ao longo de dez anos, as várias tentativas de classificação da vegetação brasileira sofreram alterações que culminaram com a apresentação da "Classificação fisionômica-ecológica das formações neotropicais" (Veloso e Góes-Filho, 1982), por Veloso et alii (1991).
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Em 1963, o botânico Rizzini, naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, apresentou a seguinte classificação (Veloso et alii, 1991):
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Floresta Amazônica
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Floresta Atlântica
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Complexo do Brasil Central
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Complexo da Caatinga
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Complexo do Meio norte
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Complexo do Pantanal
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Complexo da Restinga
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Complexo do Pinheiral
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Campos do Alto Rio Branco
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Campos da Planície Rio-grandense
Posteriormente, em 1979, Rizzini, usando o caráter fisionômico das formações, classificou a vegetação brasileira do seguinte modo:
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George Eiten, da Universidade de Brasília, em 1983, desconheceu a proposta elaborada pelo RADAM BRASIL e apresentou uma nova classificação da vegetação brasileira. A classificação deste fitogeográfo contém 24 itens principais, subdivididos de modo regionalista e muito detalhado, impossíveis de serem utilizados em mapeamento de detalhe (Veloso et alii, 1991).
I - Floresta Tropical Perenifólia | de várzea estacional |
de várzea de estuário | |
pantanosa | |
nebulosa | |
de terra firme | |
latifoliada perenifólia | |
II - Floresta Tropical Caducifólia | mesofítica latifoliada semidecídua |
mesofítica latifoliada semidecídua e de babaçu | |
mesofítica latifoliada decídua | |
III. Floresta Subtropical Perenifólia | de araucária |
latifoliada perenifólia com emergentes de araucária | |
de podocarpus | |
latifoliada perenifólia | |
arvoredo subtropical de araucária | |
savana subtropical de araucária | |
IV. Cerrado | cerradão |
cerrado | |
campo cerrado | |
campo sujo de cerrado | |
campo limpo de cerrado | |
V. Caatinga | florestal |
de arvoredo | |
arbóreo-arbustiva fechada | |
arbóreo-arbustiva aberta | |
arbustiva aberta | |
arbustiva fechada | |
savânica | |
savânica lajeada | |
VI. Pradaria Subtropical | |
VII. Caatinga amazônica | arbórea |
arbustiva fechada | |
arbustiva aberta | |
savânica | |
campestre | |
VIII. Campo rupestre | |
IX. Campo Montano | arbórea |
arbustiva fechada | |
arbustiva aberta | |
savânica | |
campestre | |
XI - Campo praiano | |
XII - Manguezal | arbóreo |
arbustivo | |
XIII - Vereda | |
XIV - Palmeiral | |
XV - Chaco | |
XVI - Campo litossólico | |
XVII - Brejo estacional | |
XVIII - Campo de murunduns | |
XIX - Pantanal | |
XX - Campo e savana amazônicos | |
XXI - Bambuzal | |
XXII - Brejo permanente (de água doce, salobra ou salgada) | |
XXIII - Vegetação aquática | |
XXIV - Vegetação de afloramentos de rocha |
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