27.7.06

Classificação da Vegetação Brasileira


Conceituação Fitográfica Brasileira (IBGE, 1992)


A vegetação do Brasil, compreendida na Zona Neotropical, pode ser dividida, segundo o aspecto geográfico em dois territórios: o amazônico e o extra-amazônico.

No território Amazônico (área ombrófila), o sistema ecológico vegetal responde a um clima de temperatura média em torno de 25ºC e de chuvas torrenciais bem distribuídas durante o ano, sem déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. No território extra-amazônico (área ombrófila e estacional), o sistema ecológico responde a dois climas - um tropical com temperaturas médias em torno de 22ºC e precipitações atmosféricas marcadas por um déficit hídrico, superior a 60 dias no balanço ombrotérmico anual, e um subtropical, com temperaturas suaves no inverno, que amenizam a média anual situada em torno de 18ºC. As chuvas são moderadas e bem distribuídas durante o ano, não ocorrendo, por isso, déficit hídrico mensal no balanço ombrotérmico anual. Contudo, há uma fase de dormência vegetativa, provocada pelas baixas temperaturas dos meses mais frios do ano.

Em cada uma dessas áreas climáticas, deu-se, através do tempo, uma adaptação da forma e do comportamento das plantas às características da estação desfavorável, seja seca ou fria ou ambas simultaneamente.

As plantas brasileiras apresentam-se em todas as formas de vida, conforme a posição e proteção dos órgãos de crescimento em relação aos períodos climáticos, pois o País localiza-se entre 5º de latitude N e 32º de latitude S, com altitudes que vão do nível do mar a mais de 3000 m. Em conseqüência, apresenta condições ecológicas variadíssimas, desde o ambiente equatorial ao temperado do Planalto Meridional, onde chegam a ocorrer nevascas nos pontos mais altos da sua porção sul.

Distribuição da Flora Neotropical Brasileira (IBGE, 1992)

Este estudo fitoecológico foi alicerçado em dois princípios da lógica científica - a deriva das placas continentais e a evolução monofilética dos seres vivos. A hipótese da deriva das placas continentais foi inicialmente atribuída a Weneger, na década de 20, para o período Permocarbonífero e somente foi novamente aceita, sem restrições, após os trabalhos publicados na revista American Geographic, nas décadas de 60 e 70.

Esta reunião de estudos geofísicos e paleontológicos comprovou a existência de dois eventos tectônicos de movimentos de placas. O primeiro corresponde à separação do grande continente da Pangéia, circundado pelo mar de Tetys, em dois continentes menores - o Gondwânia, no hemisfério Sul e o Laurásia no hemisfério Norte. O segundo corresponde ao movimento das atuais plataformas continentais que vem se realizando desde o fim do Período Cretáceo até os nossos dias.

Embora tais eventos paleogeográficos continuem ainda sendo debatidos, o que não mais se discute é a origem monofilética dos seres vivos, pois a evolução das plantas teve, como a dos animais, um tronco biológico único que se dividiu através do tempo.

A vegetação brasileira recebeu, antes da deriva das placas continentais, o concurso de plantas pantropicais que, após este evento, formaram endemismos em famílias, gêneros e espécies, constituindo, assim, os Domínios Florísticos e as Regiões da Zona Neotropical.



Classificações Brasileiras (Veloso et alii, 1991)



Classificação de Martius


A história da Fitogeografia Brasileira iniciou-se com a classificação de Martius em 1824, que usou nomes de divindades gregas para sua divisão botânica. Esta classificação continua até hoje, após tantos anos de tentativas de novas classificações, sem uma definição de aceitação dentro do consenso geográfico brasileiro.

O mapa fitogeográfico de Martius foi anexado por Gisebach no volume XXI da Flora Brasiliensis em 1858 e nele há cinco regiões florísticas:

1.Nayades (flora amazônica)

2.Hamadryades (flora nordestina)

3.Oreades (flora centro-oeste)

4.Dryades (flora da costa atlântica)

5.Napeias (flora subtropical)

Esta divisão florística permanece, pois, além de apresentar ligações filogenéticas bastante confiáveis, foi baseada em coletas botânicas classificadas pelos maiores especialistas da época (VELOSO et alii, 1991).




Classificação de Gonzaga de Campos


Passaram-se 102 anos até aparecer nova classificação fitogeográfica brasileira, que foi a de Gonzaga de Campos (1926), não mais florística, mas sim fisionômico-estrutural.

I - Florestas Floresta Equatorial

a) das várzeas

b) das terras firmes

Floresta Atlântica

a) das encostas

b) dos pinheiros

Floresta pluvial do interior

a) savana

b) cerradão

Matas ciliares
Capoeiras e Capoeirões
II - Campos Pastos
Campinas
Campos do Sul

a) limpos

b) sujos

Campos Cerrados
Campos alpinos
III - Caatingas





Classificação de Alberto J. Sampaio


O botânico Alberto J. Sampaio (1940) divide a vegetação brasileira em Flora Amazônica ou Hylae Brasileira e Flora Geral ou Extra Amazônica. Retoma, do seguinte modo, o conceito florístico para uma classificação fitogeográfica.

I - Flora Amazônica ou Hylae brasileira

do Alto rio Amazonas

do Baixo rio Amazonas

II - Flora Geral ou Extra - Amazônica

Zona dos Cocais

Zona das Caatingas

Zona das Matas Costeiras

Zona dos campos

Zona dos Pinhais

Zona Marítima


Classificação de Lindalvo Bezerra dos Santos

Lindalvo Bezerra dos Santos, em 1943, apresentou uma divisão fitogeográfica puramente fisionômica, acompanhada de terminologia regionalista. Pode-se, assim, considerar esta classificação como a primeira baseada no caráter fisionômico das formações vegetais, segundo o conceito de Grisebach (Veloso et alii, 1991).

I - Formações florestais ou arbóreas

Floresta amazônica ou hylae brasileira

Mata Atlântica

Mata dos Pinhais ou Floresta Araucária

Mata do Rio Paraná

Babaçuais ou Cocais de Babaçu

Mata de Galeria

II - Formações arbustivas e herbáceas

Caatinga

Cerrado

Campos gerais

Campinas ou Campos limpos

III - Formações complexas

Formação do Pantanal

Formações litorâneas




Classificação de Aroldo de Azevedo


Aroldo de Azevedo (1950) usou, em São Paulo, a mesma classificação de L. B. dos Santos, geógrafo do IBGE no Rio de janeiro, como se vê a seguir:

A - Formações florestais ou arbóreas

I - Floresta amazônica ou Hylae brasileira

II - Mata Atlântica

III - Mata do Rio Paraná

IV - Mata dos Pinhais ou Floresta Araucária

V - Mata de Galeria

VI - Babaçuais

B- Formações arbustivas e herbáceas

I - Caatinga

II - Cerrado

III - Campos gerais

IV - Campinas ou campos limpos

C- Formações complexas

I - Formação do Pantanal

II - Formações litorâneas



Classificação de Edgar Kuhlmamn


Em 1960, Edgar Kuhlmamn apresentou nova divisão fitogeográfica brasileira, baseando-se em conceitos climatoestruturais e terminológicos regionais, retornando, assim, a uma divisão de tipos estruturais.


I - Tipos arbóreos

A - Floresta trópico equatorial

B - Floresta semidecídua tropical

C - Floresta de araucária

D - Manguezal

II - Tipo herbáceo

E - Campo limpo

III - Tipos arbóreo-herbáceos ou intermediários

F - Cerrado

G - Caatinga

H - Complexo do Pantanal

I - Praias e dunas




Classificação de Andrade-Lima e Veloso


Andrade-Lima (1966) e Veloso (1966), o primeiro no Atlas Geográfico do IBGE e o segundo no Atlas Florestal do Brasil (Serviço de Informação agrícola – SIA), usaram um novo sistema de classificação da vegetação brasileira. Voltaram a empregar o termo formação para dividir os grupos maiores de vegetação e uma terminologia estrutural ecológica nas subdivisões florestais, seguida da terminologia regionalista para as subdivisões não-florestais (Veloso et alii, 1991):


A - Formações florestais

I - Floresta pluvial tropical

II - Floresta estacional tropical

III - Floresta caducifólia tropical

IV - Floresta subtropical

B - Formações não- florestais

I - Caatinga

II - Cerrado

III - Campo

C - Formações edáficas




Classificação do Projeto RADAM


Na década de 70, o grupo do projeto RADAM, encarregado de equacionar o mapeamento da vegetação amazônica e parte da nordestina, criou uma escola fitogeográfica baseada em Ellemberg e Mueller-Dombois. Ao longo de dez anos, as várias tentativas de classificação da vegetação brasileira sofreram alterações que culminaram com a apresentação da "Classificação fisionômica-ecológica das formações neotropicais" (Veloso e Góes-Filho, 1982), por Veloso et alii (1991).

1 - Região Ecológica da Savana Arbórea densa
Arbórea aberta
Parque
Gramíneo-lenhosa
2 - Região Ecológica da Estepe (Caatinga e Campanha Gaúcha) Arbórea densa
Arbórea aberta
Parque
Gramíneo-lenhosa
3 - Região Ecológica da Savana estéoica (vegetação de Roraima, Chaquenha e parte da Campanha Gaúcha) Arbórea densa
Arbórea aberta
Parque
Gramíneo-lenhosa
4 - Região Ecológica da Vegetação Lenhosa Oligotrófica Pantanosa (Campinarana) Arbórea densa
Arbórea aberta
Gramíneo-lenhosa
5 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial Tropical) Aluvial
Das Terras Baixas
Submontana
Montana
Alto-montana
6 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Aberta (4 faces da floresta densa) Das Terras Baixas
Submontana
Montana
7 - Região Ecológica da Floresta Ombrófila Mista (Floresta das Araucárias) Aluvial
Submontana
Montana
Alto-montana
8 - Região Ecológica da Floresta Estacional Semidecidual (Floresta subcaducifólia) Aluvial
Das Terras Baixas
Submontana
Montana
9 -Região Ecológica da Floresta Estacional Decidual (Floresta caducifólia) Aluvial
Das Terras Baixas
Submontana
Montana
10 - Áreas das Formações Pioneiras com influência marinha
influência fluvio-marinha
influência fluvial
11 - Áreas de Tensão Ecológica (contato entre regiões) com misturas florísticas (ecótono)
com encraves florísticos (encrave)
12 - Refúgios Ecológicos
13 - Disjunções Ecológicas

Classificação de Rizzini


Em 1963, o botânico Rizzini, naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, apresentou a seguinte classificação (Veloso et alii, 1991):

  • Floresta Amazônica

  • Floresta Atlântica

  • Complexo do Brasil Central

  • Complexo da Caatinga

  • Complexo do Meio norte

  • Complexo do Pantanal

  • Complexo da Restinga

  • Complexo do Pinheiral

  • Campos do Alto Rio Branco

  • Campos da Planície Rio-grandense

Posteriormente, em 1979, Rizzini, usando o caráter fisionômico das formações, classificou a vegetação brasileira do seguinte modo:

I - Matas ou Florestas
Floresta paludosa amazônica
litorânea
austral
marítima
Floresta pluvial amazônica
esclerófila
montana
baixo-montana
dos tabuleiros
de araucária
ripária ou em manchas
Floresta estacional mesófila perenifolia
mesófila semidecídua
de Orbignya (babaçu)
mesófila decídua
mesófila esclerófila
xerófila decídua
Thicket (scrub) lenhoso-atlântico
esclerófilo-amazônico
esclerófilo
lenhoso-espinhoso
suculento
em moitas
Savana central
litorâneo
II - Campo ou grassland
Limpo de quartzito
Limpo de canga
Gerais
Pampas
Alto-montano
do alto Rio Branco





Classificação de George Eiten


George Eiten, da Universidade de Brasília, em 1983, desconheceu a proposta elaborada pelo RADAM BRASIL e apresentou uma nova classificação da vegetação brasileira. A classificação deste fitogeográfo contém 24 itens principais, subdivididos de modo regionalista e muito detalhado, impossíveis de serem utilizados em mapeamento de detalhe (Veloso et alii, 1991).

I - Floresta Tropical Perenifólia de várzea estacional
de várzea de estuário
pantanosa
nebulosa
de terra firme
latifoliada perenifólia
II - Floresta Tropical Caducifólia mesofítica latifoliada semidecídua
mesofítica latifoliada semidecídua e de babaçu
mesofítica latifoliada decídua
III. Floresta Subtropical Perenifólia de araucária
latifoliada perenifólia com emergentes de araucária
de podocarpus
latifoliada perenifólia
arvoredo subtropical de araucária
savana subtropical de araucária
IV. Cerrado cerradão
cerrado
campo cerrado
campo sujo de cerrado
campo limpo de cerrado
V. Caatinga florestal
de arvoredo
arbóreo-arbustiva fechada
arbóreo-arbustiva aberta
arbustiva aberta
arbustiva fechada
savânica
savânica lajeada
VI. Pradaria Subtropical
VII. Caatinga amazônica arbórea
arbustiva fechada
arbustiva aberta
savânica
campestre
VIII. Campo rupestre
IX. Campo Montano arbórea
arbustiva fechada
arbustiva aberta
savânica
campestre
XI - Campo praiano
XII - Manguezal arbóreo
arbustivo
XIII - Vereda
XIV - Palmeiral
XV - Chaco
XVI - Campo litossólico
XVII - Brejo estacional
XVIII - Campo de murunduns
XIX - Pantanal
XX - Campo e savana amazônicos
XXI - Bambuzal
XXII - Brejo permanente (de água doce, salobra ou salgada)
XXIII - Vegetação aquática
XXIV - Vegetação de afloramentos de rocha
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