12.11.06

Informações Climáticas

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Industrialização mundial e brasileira

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26.9.06

Hidrelétricas do Rio Madeira podem ter licença ambiental prévia até novembro

Hidrelétricas do Rio Madeira podem ter licença ambiental prévia até novembro

Até novembro deste ano, deve ser liberada a licença ambiental prévia para a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira (RO).

A informação foi dada pelo secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimermann, em entrevista à Rádio da Amazônia. A licença prévia é uma exigência da lei para que um projeto de construção de usina hidrelétrica possa ir a leilão.

Antes de novembro, o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) aprovado pelo Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em 11 de setembro, será discutido em audiências públicas com os moradores da região.

Em entrevista à Agência Brasil, o representante do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens na região do Madeira, Wesley Ferreira Lopes, disse que depois da aprovação do EIA-Rima o MAB irá contestar o relatório nas audiências públicas.

Lopes alega que as usinas vão afetar cerca de 7 mil famílias que vivem na região. Estudo apresentado pelo consórcio das empresas Furnas e Odebrecht, que está propondo a construção dos empreendimentos, mostra que as famílias afetadas serão cerca de 3 mil, mas, apesar disso, as usinas trarão benefícios para a região, como a geração de empregos.

O secretário do ministério de Minas e Energia, Márcio Zimermann, afirma que os estudos realizados até agora permitiram reduzir a área a ser inundada com a construção das usinas.

“O primeiro projeto era de apenas uma usina e inundava 1.100 quilômetros quadrados de área. Para minimizar o impacto, diminuímos essa área e, quando fizemos em vez de uma só, duas usinas, Jirau e Santo Antônio, reduzimos essa área de forma que cada uma ficou em cerca de 200 quilîometros quadrados”. Juntas, as usinas de Jirau e Santo Antônio devem gerar cerca 6.400 Megawatts de potência, aproximadamente metade da capacidade atual da usina hidrelétrica de Itaipu. (Yara Aquino/ Agência Brasil)

28.8.06

Séries - Jornal Nacional

Séries -:
Nossa mata

Série sobra a mata Atlântica

Preservar a Caatinga pode ser bom negócio


O manejo florestal na Caatinga pode garantir uma renda adicional ao produtor rural, sem inviabilizar a realização de outras atividades, como criação de gado e apicultura. Essa estratégia, além de ser financeiramente viável, é fundamental para assegurar a preservação desse bioma — que ocupa 6,83% do território nacional (uma área que corta dez Estados) e que em sua maioria (80%) já foi degradado pela ação humana, sobretudo por meio de desmatamentos e queimadas.

Esse tem sido o mantra defendido por Francisco Barreto Campello, coordenador regional do projeto Manejo Integrado de Ecossistema para o Bioma Caatinga, desenvolvido pelo GEF (Fundo para o Meio Ambiente Mundial, na sigla em inglês), com o apoio do PNUD. Em seminário esta semana na Bahia, por exemplo, ele defendeu que o manejo florestal sustentável pode render até R$ 2 mil por mês em uma propriedade de 250 hectares (considerada de pequeno porte na região). “Funciona como uma renda extra”, comenta.

Uma alternativa para modificar o quadro de degradação, de acordo com Campello, envolveria um plano de manejo desenvolvido com a ajuda de um engenheiro e a posterior divisão da propriedade em 13 áreas, que seriam exploradas individualmente a cada ano. A parte usada no primeiro ano, portanto, só seria utilizada novamente depois de 13 anos.

“É muito comum nesta região que chegue alguém para esses produtores e fale: compro toda sua madeira agora e você a utiliza para pasto. Muitas vezes, eles precisam do dinheiro naquela hora e vendem. Queremos que eles percebam que é possível criar um ativo que vai poder gerar renda para o resto da vida, que é possível ter alternativas de produção sem a destruição ambiental”, afirma Campello.

“Em uma propriedade de 10 hectares, se toda a madeira for vendida de uma vez, é possível receber cerca de R$ 2 mil. Mas se a madeira vem de uma área que não está sob manejo, o produtor deve pagar um imposto ao IBAMA, chamado de taxa de reposição florestal, que seria equivalente, neste caso, a R$ 600. Se a atividade é desenvolvida de forma sustentável, além dele ter um dinheiro todo o mês, ele fica livre da taxa”, compara.

A idéia foi apresentada para 200 produtores rurais do município da Barra, no médio São Francisco baiano, durante um seminário promovido pelo GEF e pela Prefeitura, na segunda e terça-feira. O objetivo era identificar pessoas interessadas em implantar a atividade em suas terras.

“Mostramos para os participantes como é a questão do manejo florestal e qual a vantagem para o produtor do ponto de vista econômico. Para aqueles que têm pequenas propriedades, de cerca de 250 hectares, é possível ter uma renda entre R$ 1 mil e R$ 2 mil e ainda gerar dez empregos estáveis. Além disso, ele pode continuar com a pecuária, a apicultura, porque as outras atividades não ficam inviabilizadas”, diz Campello. De acordo com ele, não são apenas os pequenos proprietários que podem se beneficiar. “Há empresários com uma área de 100 mil hectares com um plano de manejo em plena implementação. Um plano de manejo bem pensado não apresenta riscos porque a floresta já existe. Não é como no reflorestamento que você tem que esperar seis anos para utilizar a terra”, explica.

Como resultado do seminário, chamado Sistemas de Usos Sustentáveis e Convivência com a Caatinga, saiu a proposta de organizar duas unidades de referência no município — que não tem nenhuma experiência parecida —, uma em um assentamento rural e outra em uma propriedade de médio porte. As duas atividades serão realizadas, segundo Campello, em parceria com o projeto de Revitalização e Integração do Rio São Francisco, do governo federal.
(Fonte: Talita Bedinelli / PNUD Brasil)

27.8.06

Ser o ´celeiro do Brasil´ custa caro ao Cerrado brasileiro

SUSTENTABILIDADE

Ser o ´celeiro do Brasil´ custa caro ao Cerrado brasileiro

Enquanto o país bate recordes de produção e exportação de grãos, cursos d'água são contaminados, animais entram em listas de extinção e uma área do tamanho do Estado de Alagoas é desmatada, anualmente, no Cerrado.

SÃO PAULO - Considerado, até a década de 1980, um local de solos pobres e vegetação minguada, o Cerrado vem ganhando importância para dois grupos de interesses distintos. De um lado, os biólogos, pesquisadores e ecologistas, que anunciam descobertas atrás de descobertas sobre a biodiversidade e importância desse bioma dentro dos ecossistemas brasileiros. Do outro, figuram os expoentes do agronegócio, representados principalmente pelos sojicultores que, depois de descobrirem a potencialidade da exploração agrícola da região, vêem o Cerrado como terra vazia a ser conquistada. O que está longe da realidade.

Na queda de braço entre os dois grupos, o poder econômico tem levado vantagem. Segundo o relatório "Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro", lançado pela ONG Conservação Internacional em julho de 2004, o total de soja plantada no Cerrado subiu de 45 mil quilômetros quadrados, em 1995, para 100 mil km² em 2002. A área corresponde ao território do estado de Pernambuco, e significa 5% da área total do Cerrado, que abrange 2 milhões de km².

A expansão da agricultura foi possibilitada pelo uso de fertilizantes e de técnicas de correção de solo, enquanto a vegetação pouco densa e o relevo plano permitiram a rápida ocupação. Diferentemente da Amazônia, onde, após a derrubada a floresta, há um período de utilização da terra pela pecuária, o Cerrado pode ser utilizado pela agricultura em menos de um ano após o desmate. "No Cerrado, a ocupação é muito mais rápida, pois a vegetação não oferece empecilhos. O cara coloca um trator e já sai derrubando", conta o zoólogo e pesquisador da Universidade de Brasília, Guarino Colli.

Uma estimativa realizada em 1998 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontou que restam apenas 34,22% das áreas nativas remanescentes do Cerrado. Considerando os números atuais de desmatamento - cerca de 26 mil km² ao ano - e as áreas protegidas (2,2% em unidades de conservação e 2,3% em terras indígenas), a Conservação Internacional estima que o bioma deixe de existir até o ano de 2030.

Apesar da previsão assustadora, há perspectivas ainda piores para o ritmo de destruição. Hoje, o cultivo da soja padece do alto custo do transporte, com rodovias precárias para o escoamento da produção. A pavimentação da rodovia BR-163 (Cuiabá-Santarém), contudo, pode baratear o transporte e tornar mais lucrativo o cultivo do grão, estimulando a abertura de novas áreas de plantio no Cerrado.

Para Sergio Schlesinger, do Fórum Brasileiro de Organizações Não-governamentais (Fbons), o cultivo de monoculturas, como a soja e a cana, é incompatível com a conservação do bioma. "Pela sua natureza, [essas monoculturas] são altamente destruidoras. Uma colheitadeira de soja, por exemplo, só trabalha em grandes áreas devastadas." Sérgio destaca, ainda, que o pequeno produtor sofre mais com a destruição do meio ambiente e por isso tende a cuidar melhor dele. "As famílias que viviam da agricultura familiar, da silvicultura, estão sendo expulsas. A poluição do solo e das águas obriga as pessoas vizinhas às grande plantações a se mudarem. O grande proprietário não mora no local. Mora na cidade. É um empresário."

De acordo com a bióloga Rosane Bastos, integrante da Rede Cerrado - um grupo de organizações que se juntou para criar projetos de preservação do bioma, há dois pesos e duas medidas no momento de aplicar a legislação ambiental. Enquanto os grandes produtores realizam grandes desmatamentos sem serem incomodados, os pequenos são cobrados por qualquer mudança mínima no ambiente. "Hoje, a lei é muito cobrada do pequeno, que não pode derrubar uma árvore."

As investigações da Polícia Federal corroboram com a afirmação da bióloga. Em junho de 2005, um conjunto de ações batizado de Operação Curupira prendeu o então secretário estadual do Meio Ambiente do Mato Grosso, Moacir Pires, acusado de envolvimento num esquema de extração ilegal de madeira. A descoberta do esquema levou à extinção da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema), órgão que fiscalizava a derrubada de matas no estado. Pires fora nomeado por Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, que já foi chamado de "Rei da Soja", devido às grandes plantações de sua família.

Sinais de exaustão
Não são poucos os indícios de que já se passou da hora de ter uma discussão séria sobre uma exploração racional do Cerrado. Além dos dados da alta destruição da vegetação nativa, a perda do solo e a invasão de vegetais estranhos ao bioma dão sinais de que não é apenas o desmatamento que pode causar perdas irreversíveis à região, inclusive com prejuízos para os fazendeiros que fazem uso dela.

A rápida degradação do solo é um exemplo disso. De acordo relatório da Conservação Internacional, o plantio tradicional da soja, como é feito no Cerrado, causa a perda de cerca de 25 toneladas de solo por hectare ao ano. Caso fossem aplicadas técnicas de conservação, como a aragem mínima, o número poderia ser reduzido a 3 toneladas por ano. Para Rosane Bastos, a improdutividade pode impulsionar a destruição de outros ecossistemas: "se os grandes produtores ficarem sem solo, vão subir para a Amazônia", prevê.

Problema semelhante acontece com a pecuária. Metade dos pastos plantados - cerca de 250.000 km² - estão degradados, com pouca cobertura vegetal, plantas não comestíveis e cupinzeiros. Com alimentação escassa, cai o número máximo de animais por hectare, aumentando a área total voltada à pecuária.

Para aumentar o pasto, plantaram-se capins estrangeiros, que ressecam e transformam-se em um combustível altamente inflamável. Apesar do ecossistema do Cerrado ser adaptado a queimadas anuais, a combustão desse capim causa um fogo de temperatura mais alta que as usuais, matando as plantas nativas.

Patinho feio
Apesar de ocupar 21% do território brasileiro, o Cerrado acabou ficando de lado na discussão da necessidade de preservação ambiental. Estudiosos do bioma afirmam que o desprezo pode ter acontecido por causa da cobertura vegetal mais rarefeita e a concorrência com outros biomas exuberantes, como a Amazônia e a Mata Atlântica. "Isso começa desde a comunidade internacional. Um estrangeiro, em geral, não sabe nem que o Cerrado existe", aponta Guarino Colli.

Um dos grandes sintomas do abandono do ecossistema é o número de Unidades de Conservação. Atualmente, apenas 2,2% do bioma estão protegidos pelo governo. Somando-se às áreas particulares, como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, o número alcança 4,4%.

De acordo com Fabiana Aquino, pesquisadora da Embrapa Cerrados, com poucas áreas de proteção, muitas espécies de animais e vegetais que ocorrem somente em alguns lugares do Cerrado correm o risco de desaparecer rapidamente. "Estima-se que 20% das espécies ameaçadas ou endêmicas não ocorram nas áreas legalmente protegidas. Ou seja, é necessário que outras áreas fora das Unidades de Conservação sejam preservadas para que, a fauna e flora do Cerrado persistam em longo prazo", alerta.

O baixo número de UCs também impede a ocorrência de Corredores de Biodiversidade - redes de parques, reservas e áreas privadas próximas uma das outras que impedem o isolamento das florestas, garantindo a sobrevivência do maior número de espécies e o equilíbrio dos ecossistemas. Grandes predadores, como a onça, dependem de áreas como essas para viver.

Não bastasse a pequena área destinada à proteção ambiental no Cerrado, o governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PSDB), aprovou em abril de 2005 uma lei que reduz em 81% o território da Área de Proteção Ambiental da Ilha do Bananal/Cantão. A reserva tinha 1,7 milhões de hectares, que seriam diminuídos para cerca de 185 mil.

Na época, Miranda alegou que a redução atendia a pedidos de comunidades da região, que ficaram com seu sustento comprometido. O Ministério Público Federal (MPF) do Tocantins, contudo, entendeu que o intuito da lei era favorecer o agronegócio, e seria prejudicial ao meio ambiente. Com uma ação impetrada na Justiça Federal, o MPF conseguiu impedir que a legislação entrasse em vigor.

Outros planos
Na última quarta-feira, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de projeto de emenda constitucional (PEC) que dá ao Cerrado e a Caatinga o status de patrimônio nacional. A medida agora precisa passar pelo plenário da casa e pelo Senado e, se aprovada, permitirá que se criem regras de proteção para esses ecossistemas em locais que estão fora de unidades de conservação. Regras semelhantes existem para Amazônia, onde só é permitido desmatar 20% das propriedades. No Cerrado, a conta é inversa: 80% da cobertura vegetal pode ser retirada. A PEC estava emperrada há 11 anos, quando foi proposta pelos deputados Gervásio Oliveira (PMDB-AP) e Pedro Wilson (PT-GO).

Para a Rosane Bastos, o projeto de desenvolvimento que conta com o Cerrado apenas como terra a ser explorada é o que determina a sua destruição. "A visão do Cerrado como um celeiro do Brasil tem determinado essa falta de políticas e essa ação predatória da soja, cana, milho, algodão e pecuária". Guarino Colli concorda com a colega, e destaca os olhos mais voltados à balança comercial do que ao meio ambiente: "O Brasil depende muito da exportação de grãos. Por isso, o governo não está nem aí para o que acontece com o Cerrado".

Valorização tardia
O ritmo acelerado de destruição do ecossistema fez com que estudiosos e organizações voltassem os olhos para o segundo maior bioma brasileiro. Hoje, o Cerrado ocupa o posto de savana que tem mais biodiversidade no mundo, à frente até mesmo das suas equivalentes africanas.

De acordo com uma classificação elaborada pela Conservação Internacional, o Cerrado é um dos 34 hotspots mundiais, como são identificadas as regiões naturais mais biodiversas e ameaçadas do planeta, ou seja, local rico em espécies endêmicas (que só ocorrem na região) e elevado grau de ameaça. O Fundo Mundial para a Vida Silvestre (WWF) o classifica como uma das ecorregiões mais importantes do planeta.

Enquanto se descobre a biodiversidade, números da Fundação Biodiversitas mostram que até 2003 havia pelo menos 65 espécies animais que dependiam do bioma e estavam em risco de extinção. Entre elas figuram o Lobo Guará, a Jaguatirica, a Ariranha, o Tatu Canastra e o Tamanduá Bandeira. A principal causa da morte desses animais é a perda do seu habitat natural. Apesar do número alto, Colli afirma que ele é subdimensionado. "O Cerrado está mal representado nas listas de espécies de extinção Ainda temos um conhecimento restrito sobre a distribuição das espécies no Cerrado", explica.

Os recursos hídricos do Cerrado são outra questão preocupante para os pesquisadores. Hoje, a região já padece da contaminação dos rios, causada principalmente pelo alto uso de agrotóxicos e insumos agrícolas para a correção dos solos pobres e ácidos. Como o Cerrado é um grande centro dispersor de água para as três principais bacias brasileiras (Tocantins-Amazônica, Paranaíba-Paraná e São Francisco), os problemas ambientais que o afetam podem desencadear efeitos negativos por quase todo o país.

* Iberê Thenório integra a ONG Repórter Brasil

22.8.06

Bacias Hidrográficas

Bacias Hidrográficas - A região coberta por água doce no interior do Brasil ocupa 55.457 km2 , o que equivale a 1,66% da superfície do planeta. O clima úmido do país propicia uma rede hidrográfica numerosa e formada por rios de grande volume de água, todos desaguando no mar. Com exceção das nascentes do rio Amazonas, que recebem águas provenientes do derretimento das neves e de geleiras, a origem das águas dos rios brasileiros encontra-se nas chuvas. A maioria dos rios é perene, ou seja, não se extingue na estação de seca. Apenas no sertão nordestino, região semi-árida, existem rios temporários. As bacias dos rios brasileiros se formam a partir de três grandes divisores: o planalto Brasileiro, o planalto das Guianas e a cordilheira dos Andes. De acordo com a forma de relevo que atravessam, as bacias hidrográficas podem ser divididas em dois tipos: as planálticas, que permitem aproveitamento hidrelétrico, e as de planície, de correnteza fraca, utilizadas para navegação. São quatro as principais bacias hidrográficas brasileiras: Amazônica, do Prata ou Platina; São Francisco e Tocantins.

Bacia Amazônica - É a de maior superfície de água do mundo (3.889.489,6 km2). O rio Amazonas, com 6.515 km de extensão, tem mais de sete mil afluentes, sendo o segundo do planeta em comprimento e o primeiro em vazão de água (100 mil m3 por segundo). Nasce no planalto de La Raya, no Peru, com o nome de Vilcanota, e ao longo de seu percurso recebe ainda os nomes de Ucaiali, Urubanda e Marañon. Já em território brasileiro recebe primeiramente o nome de Solimões, para, a partir da confluência com o rio Negro, próximo à cidade de Manaus, capital do estado do Amazonas, vir a ser chamado de rio Amazonas. Embora seja uma bacia de planície, com 23 mil km navegáveis, a bacia Amazônica possui também grande potencial hidrelétrico.

Bacia do Prata - Espalha-se por uma área de 1.393.115,6 km2 e é formada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, que nascem no Brasil e vão posteriormente formar o rio da Prata na divisa da Argentina com o Uruguai. O rio Paraná tem o maior potencial hidrelétrico do país, o que propiciou a construção da usina de Itaipu na fronteira com o Paraguai. O rio Uruguai também possui potencial hidrelétrico em seu curso. Já o rio Paraguai, que atravessa a planície do Pantanal, é muito utilizado para navegação.

Bacia do São Francisco - Ocupa área de 645.876,6 km2 e seu principal rio, o São Francisco, é a única fonte de água da região semi-árida do Nordeste brasileiro. Com potencial hidrelétrico razoável, possui importante usina no estado da Bahia, chamada Paulo Afonso. Apesar de ser um rio de Planalto, tem 2 mil km navegáveis entre as cidades de Pirapora no estado de Minas Gerais e Juazeiro no estado da Bahia.

Bacia do Tocantins - É a maior bacia em território brasileiro, com 808.150,1 km2. Seu principal rio é o Tocantins, que nasce no estado de Goiás e deságua na foz do rio Amazonas, no estado do Pará. Aproveitando seu potencial hidrelétrico, nele se encontra a usina de Tucuruí, localizada no estado do Pará.

Ilhas - Existem cinco grupos de ilhas distantes da costa em território brasileiro, que apresentam paisagem deslumbrante e fauna muito rica: Penedos de São Pedro e São Paulo, Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Abrolhos, Trindade e Martim Vaz.

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL


O espaço geográfico é um espaço diferenciado. Paisagens diversas aparecem aos olhos de quem se desloca, produzindo sensações de alegria, depressão, espanto, curiosidade, etc.

Viajando de carro ou de ônibus, observamos uma sucessão de imagens: montanhas e vales desaparecem e são substituídos por planícies, florestas verdejantes tomam o lugar de arbustos ressecados ou gramíneas rasteiras. Viajando de avião, abaixo do tapete de nuvens, observamos campos cultivados que desenham formas geométricas, pastagens extensas quase vazias, montanhas recobertas de árvores. Quando o avião decola ou aterrissa, aparecem edifícios, favelas, ruas movimentadas, chaminés: a paisagem da cidade.

Quais são as causas de todas essas diferenças? Por que o espaço geográfico apresenta paisagens tão variadas?

A primeira causa da variedade de paisagens está na natureza. A natureza é bastante diversificada. Ela produz variações muito grandes no espaço geográfico. Climas, relevo, solos e vegetação são responsáveis pelo aparecimento de diferentes paisagens naturais. Lugares muito quentes e secos exibem vegetação pobre, de arbustos cinzentos e gramíneas esparsas. Lugares quentes e úmidos exibem vegetação florestal e grandes rios. Em lugares frios aparecem monótonas florestas de pinheiros.

A Segunda causa da variedade de paisagens está na sociedade. A produção de riquezas e as culturas diferenciam o espaço geográfico e as paisagens.

Algumas áreas foram ocupadas pela economia moderna a tempos. Com isso, foram profundamente modificadas pelo trabalho social dos homens que ergueram cidades e indústrias, cultivaram os campos, construíram rodovias e ferrovias. Outras áreas dedicam-se à produção agrícola tradicional.

Regionalizar o espaço geográfico é dividi-lo em regiões, levando em conta as diferenças paisagísticas e a organização sócio-econômica das diversas áreas. É possível regionalizar espaços geográficos grandes ou pequenos. Pode-se regionalizar um bairro, dividindo-o em áreas residenciais, industriais, e comerciais. Pode-se também dividir o mundo inteiro, identificando, por exemplo, regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas.

A divisão regional oficial

A ocupação humana e econômica do território brasileiro produziu modificações importantes no espaço natural. Em vastas áreas, a vegetação original foi quase inteiramente destruída, como aconteceu com as matas tropicais dos mares de morros ou a mata de araucária nos planaltos do sul do país. No seu lugar, surgiram pastagens, campos cultivados, regiões industriais, cidades.

As primeiras propostas de divisão regional do Brasil baseavam-se nas diferenças da paisagem natural. Atualmente, porém, não faz mais sentido elaborar uma divisão regional que não leve em conta as alterações da paisagem produzidas pelo homem.

Por isso, a divisão oficial do Brasil em regiões baseia-se principalmente nas características humanas e econômicas do território nacional. A regionalização elaborada pelo IBGE divide o país em cinco macrorregiões. Os limites de todas elas acompanham as fronteiras político-administrativas dos estados que formam o país.

Cada uma das macrorregiões do IBGE apresenta características particulares. São "sinais" que ajudam a identificá-las, como os sinais de nascença ou as impressões digitais distinguem as pessoas. Alguns desses sinais são muito antigos, como se a região já tivesse nascido com eles: trata-se das características naturais impressas na paisagem. Outros são recentes: foram, e continuam sendo, produzidos pela atividade social de construção do espaço geográfico.

A região Sudeste é a mais industrializada do país e também a mais urbanizada. As maiores empresas instaladas no país têm as suas sedes no Sudeste. Nessa região, estão as duas principais metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. O domínio natural mais importante é o dos mares de morros, antigamente recoberto por verdes matas tropicais.

A região Sul caracteriza-se pela presença de numerosos descendentes de europeus: alemães, italianos ou eslavos. Essa região apresenta também os melhores indicadores sociais do país. A sua agropecuária, moderna e produtiva, transformou-a em fornecedora de alimentos para todo o país. É a única do Brasil com clima subtropical.

A região Nordeste já foi a mais rica, na época colonial. Depois, sua economia declinou e ela se transformou na mais pobre região brasileira. Por isso, tornou-se foco de repulsão de população. Os migrantes nordestinos, ao longo do século XX, espalharam-se por todo o país. Atualmente, o rápido crescimento econômico de algumas áreas do Nordeste está mudando essa situação.

As regiões Centro-Oeste e Norte são os espaços geográficos de povoamento mais recente, que continuam a sofrer um processo de ocupação. Por isso, a paisagem natural encontra-se, em grande parte, preservada.

A região Centro-Oeste, espaço dos cerrados, começou a ser ocupada mais rapidamente após a construção de Brasília, inaugurada em 1960. De lá para cá aumentou bastante a população regional. Aumentaram também a criação de gado e a produção agrícola. Mesmo assim, existem áreas com densidades demográficas muito baixas, como o Pantanal.

A região Norte, espaço da floresta equatorial, é de ocupação ainda mais recente. Mas essa ocupação vem crescendo rapidamente. A derrubada da mata, as queimadas, a poluição dos cursos de água por garimpos e os conflitos pela posse da terra são conseqüências ambientais e sociais da colonização da Amazônia.

Os complexos regionais

Existe outra forma de regionalizar o Brasil, de uma maneira que capta melhor a situação sócio-econômica e as relações entre sociedade e o espaço natural. Trata-se da divisão do país em três grandes complexos regionais: o Centro-Sul, o Nordeste e a Amazônia.

Ao contrário da divisão regional oficial, esta regionalização não foi feita pelo IBGE. Ela surgiu com o geógrafo brasileiro Pedro Pinchas Geiger no final da década de 60, nela o autor levou em consideração o processo histórico de formação do território brasileiro em especial a industrialização, associado aos aspectos naturais.

A divisão em complexos regionais não respeita o limite entre os estados. O Norte de Minas Gerais encontra-se no Nordeste, enquanto o restante do território mineiro encontra-se no Centro-Sul. O leste do Maranhão encontra-se no Nordeste, enquanto o oeste encontra-se na Amazônia. O sul de Tocantins e do Mato Grosso encontra-se no Centro-Sul, mas a maior parte desses estados pertencem ao complexo da Amazônia. Como as estatísticas econômicas e populacionais são produzidas por estados, essa forma de regionalizar não é útil sob certos aspectos, mas é muito útil para a geografia, porque ajuda a contar a história da produção do espaço brasileiro.

O Nordeste foi o pólo econômico mais rico da América portuguesa, com base na monocultura da cana de açúcar, usando trabalho escravo. Tornou-se, no século XX, uma região economicamente problemática, com forte excedente populacional. As migrações de nordestinos para outras regiões atestam essa situação de pobreza.

O Centro-Sul é na atualidade o núcleo econômico do país. Ele concentra a economia moderna, tanto no setor industrial como no setor agrícola, além da melhor estrutura de serviços. Nele se também a capital política do país.

A Amazônia brasileira é o espaço de povoamento mais recente, ainda em estágio inicial de ocupação humana. A área está coberta por uma densa floresta, com clima equatorial, que dificulta o povoamento. Os movimentos migratórios na direção desse complexo regional partem tanto do Centro-Sul como do Nordeste, sendo que hoje a região mais recebe população.

Essa é uma visão superficial da organização do espaço geográfico brasileiro. Ela resume as principais características naturais e humanas de cada uma dessas regiões. Por serem vastas áreas, verdadeiros complexos regionais, o Nordeste, o Centro-Sul e a Amazônia registram profundas desigualdades naturais, sociais e econômicas. As regiões apresentam diferenças entre si e variedade interna de paisagens geográficas.

Em meio à pobreza tradicional, o Nordeste abriga imensos recursos econômicos e humanos, que apontam caminhos para a superação de uma crise que já se prolongou demais. As transformações introduzidas nas zonas irrigadas do Vale do São Francisco e a criação de zonas industriais na área litorânea comprovam essa possibilidade.

A geração de riquezas no Centro-Sul tornou essa região a mais rica do país, estabelecendo um pólo de atração populacional que, no século XX, originou as maiores metrópoles nacionais. O ritmo acelerado desse crescimento criou disparidades sociais gravíssimas, como desemprego, favelamento, e problemas ambientais de difícil solução.

Áreas significativas da Amazônia já foram ocupadas, especialmente aquelas situadas na parte oriental da região ou nas margens dos rios. Hoje esse povoamento se acelerou muito, a tal ponto que os conflitos pela posse da terra se tornaram tristemente comuns. Formaram-se também grandes cidades, caracterizadas pelo crescimento explosivo e por profundos desequilíbrios sociais e econômicos.

O NORDESTE

As sub-regiões nordestinas

Os espaços geográficos são muito diversificados no Nordeste. A organização geográficas das atividades econômicas ajuda a compreender essas diferenças. No complexo regional, encontram-se importantes centros industriais voltados para a produção de petróleo, aço e substâncias químicas, produtos que são comercializados em todo o país. Mas também há pequenas tecelagens domésticas espalhadas por cidades do interior.

A agricultura também exibe situações muito desiguais. Existem usinas canavieiras que empregam bóias frias, imensos latifúndios de criação de gado, modernas explorações irrigadas onde se cultivam frutas tropicais, e minifúndios familiares que produzem produtos para subsistência.

No interior semi-árido, muitas pessoas jamais viram uma grande cidade, usam jumentos como meio de transporte e de carga, vestem-se com roupas feitas de couro dos animais criados nas fazendas. Por outro lado, no litoral úmido e turístico, há metrópoles de milhões de habitantes, que apresentam problemas típicos das grandes cidades do Centro-Sul: favelamento, poluição do ar, congestionamento de trânsito, etc.

A natureza e a história dividiram o Nordeste em sub-regiões, ou seja, áreas menores que possuem uma série de características comuns. São quatro as sub-regiões nordestinas: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte.

a) A zona da mata

É a faixa litorânea de planícies que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. As chuvas são intensas e há duas estações bem definidas: o verão seco e o inverno chuvoso.

Na época colonial, instalou-se nesse área o empreendimento açucareiro escravista. As condições ecológicas são ideais para o cultivo da cana. Os solos, férteis e escuros, conhecidos como massapê, cobrem os vales dos rios, que ficaram conhecidos como "rios do açúcar". Vários desses rios são temporários, pois suas nascentes localizam-se no interior do semi-árido.

No início da colonização, a Zona da Mata não era dominada completamente pelas plantações de cana. A população das cidades e das fazendas necessitava de alimentos. Por isso, uma parte das terras ficava reservada para culturas de milho, mandioca, feijão e frutas. Também existiam pastagens para a criação de gado. Essas terras eram os tabuleiros, áreas um pouco mais elevadas situadas entre os vales de dois rios.

Como os solos dos tabuleiros são menos úmidos e mais pobres que o massapê, não eram usados para o plantio da cana. Assim, inicialmente, toda a produção agrícola e até a pecuária localizavam-se na faixa úmida do litoral, onde se instalaram sítios familiares produtores de alimentos e fazendas de gado.

Mas a produção de cana, crescia, à medida que aumentavam as exportações de açúcar para a Europa. As sesmarias se dividiam entre os herdeiros dos primeiros proprietários. Cada um deles criava novos engenhos, que necessitavam de mais cana. Depois, os sítios foram comprados pelos fazendeiros e as culturas de alimentos foram substituídas por novas plantações de cana.

Muita coisa mudou na Zona da Mata desde a época colonial. A escravidão deu lugar ao trabalho assalariado dos bóias frias. Os antigos engenhos foram substituídos por usinas de açúcar e álcool. Mas a cana permaneceu como produto principal da faixa litorânea do Nordeste.

O principal motivo dessa permanência esta na força política dos proprietários de usinas e fazendas. Durante o século XX, a produção de cana, açúcar e álcool do Centro-Sul evoluiu tecnicamente, superando a produção da Zona da Mata. Mas os usineiros sempre conseguiram ajuda do governo federal ou dos governos estaduais, sob a forma de empréstimos, perdão de dívidas ou garantia de preços mínimos. Dessa forma, impediram a diversificação da agricultura do litoral nordestino.

Isso não significa que a cana seja a única cultura da Zona da Mata. No litoral da Bahia, principalmente na área do Recôncavo Baiano, nas proximidades de Salvador, aparecem importantes culturas de tabaco. No sul da Bahia, na área das cidades de Ilhéus e Itabuna, concentram-se as fazendas de cacau.

Além disso, a produção de frutas vem adquirindo importância na Zona da Mata. Há várias frutas nativas do Nordeste - como o caju, o cajá, a mangaba e a pitanga - que servem para fazer deliciosos sucos e doces. Outras frutas, provenientes das áreas tropicais do Oriente - como a graviola, a jaca e a manga - adaptaram-se muito bem aos climas e solos nordestinos.

b) O Agreste

É uma faixa de transição ecológica entre a Zona da Mata e o Sertão nordestino. De largura aproximadamente igual a da Zona da Mata, corre paralelamente a ela, do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia. Embora, como no Sertão, predomine o clima semi-árido, as secas do Agreste raramente são tão duradouras e os índices pluviométricos são maiores que os registrados no Sertão.

Na verdade, grande parte do Agreste corresponde ao planalto da Borborema, voltada para o oceano Atlântico, recebe ventos carregados de umidade que, em contato com o ar mais frio, provocam chuvas de relevo. Na encosta oeste do planalto, as secas são freqüentes e a paisagem desolada do Sertão se torna dominante.

O povoamento do Agreste foi conseqüência da expansão das plantações de cana da Zona da Mata. Expulsos do litoral, os sitiantes e criadores de gado instalaram-se nas terras do interior, antes ocupadas por indígenas. Dessa forma, o Agreste transformou-se em área produtora de alimentos. O Agreste abastecia a Zona da Mata de alimentos e esta por sua vez a Europa exportando açúcar.

Após o fim da escravidão, as plantações canavieiras passaram a utilizar trabalhadores temporários, empregados durante a época da colheita. O Agreste passou a fornecer esses trabalhadores: sitiantes e camponeses pobres que deixam a sua terra nos meses de safra (transumância). Enquanto os homens ganham algum dinheiro na colheita, as mulheres e os filhos permanecem cuidando da lavoura doméstica.

Enquanto a Zona da Mata é uma área policultora, o Agreste é uma área policultora, já que seus sítios cultivam diversos alimentos e criam gado para a produção do leite, queijo e manteiga. Por isso mesmo, uma sub-região depende da outra, estabelecendo uma forte interdependência. Assim, a Zona da Mata precisa dos alimentos e dos trabalhadores do Agreste e este precisa dos mercados consumidores e dos empregos da Zona da Mata.

As diferenças entre as duas sub-regiões não estão apenas naquilo que produzem, mas em como produzem.

Na Zona da Mata, as sesmarias açucareiras da época colonial foram se dividindo e deram origem a centenas de engenhos. Alguns nem faziam açúcar, apenas rapadura e aguardente. Mesmo assim, as fazendas resultantes não se tornaram pequenas propriedades, uma vez que os proprietários precisavam manter uma área suficiente para abastecer os engenhos.

No Agreste, ao contrário, as propriedades foram se subdividindo cada vez mais, já que não cultivavam cana nem tinham engenhos.

Com a sucessão de diversas gerações, as propriedades do Agreste atingiram um tamanho mínimo, suficiente apenas para a produção dos alimentos necessários para a família, ou seja, para a prática da agricultura de subsistência.

A pobreza do Nordeste está associada a esse contraste do mundo rural. De um lado, as usinas e fazendas açucareiras da Zona da Mata concentram a riqueza nas mãos de uma pequena parcela de proprietários. De outro, os minifúndios do Agreste mantém na pobreza as famílias camponesas, que não tem terras e técnicas suficientes para praticar uma agricultura empresarial.

Nos últimos anos vem se dando um processo de concentração de terras no Agreste, em virtude principalmente, da expansão de propriedades de criação de gado para corte.

c) O Sertão

Mais de metade do complexo regional nordestino corresponde ao Sertão semi-árido. A caatinga, palavra de origem indígena que significa "mato branco", é a cobertura dominante e quase exclusiva na imensa área do Sertão.

A ocupação do Sertão, ainda na época colonial, se deu pela expansão das áreas de criação de gado. A pecuária extensiva representa, até hoje, a principal atividade das grandes propriedades do semi-árido.

No século XVIII, a Revolução Industrial estava em marcha na Inglaterra. As fábricas de tecidos produziam cada vez mais, obtendo lucros fabulosos e exigindo quantidades crescentes de matérias-primas. Por essa época, começou a aumentar o plantio de algodão no Sertão nordestino. Vender algodão para os industriais ingleses tinha se tornado um ótimo negócio.

No século XIX, a Guerra Civil entre nortistas e sulistas nos EUA desorganizou as exportações de algodão estadunidense. No Nordeste, os pecuaristas do Sertão passaram a cultivar o algodão em uma parte das suas terras e o Brasil tomou mercados antes controlados pelos EUA. Os plantadores de algodão do Sertão tornaram-se ricos fazendeiros, que disputavam o poder e a influência com os usineiros da Zona da Mata.

No interior do Sertão definiu-se uma zona na qual as precipitações pluviométricas são mais baixas, denominada "Polígono das secas". Porém não é verdade que as secas se limitem ao Polígono: muitas vezes, elas atingem todo o Sertão e até mesmo o Agreste. Também não é verdade que todos os anos existem secas no Polígono.

No Sertão existiram secas históricas que duraram vários anos, provocaram grandes tragédias sociais até hoje lembradas.

As grandes secas ocorreram após vários anos de chuvas irregulares. A primeira grande seca historicamente documentada ocorreu no período de 1721 a 1727. Um historiador, Tomás Pompeu de Assis Brasil, escreveu que "1722 foi o ano da grande seca, em que não só morreram numerosas tribos indígenas, como o gado e até as feras e aves se encontravam mortas por toda a parte."

O jornalista pernambucano Carlos Garcia explica o mecanismo das secas: " A grande seca de 1932 começou realmente em 1926, quando as chuvas foram irregulares, irregularidade que se acentuou a cada ano seguinte. Em 1932, caíram chuvas finas em janeiro, mas cessaram totalmente em março. A estiagem de 1958 também foi uma grande seca, o que indica a ocorrência de um ciclo de anos secos a cada 26 anos, aproximadamente. Essa periodicidade é que leva os sertanejos a afirmar que cada homem tem de enfrentar uma grande seca em sua vida." (O que é nordeste brasileiro? São Paulo, Brasiliense, 1984, p.64.)

Além das grandes secas, ocorrem também secas localizadas, que atingem pequenos trechos de um ou outro estado nordestino mas causam muitos estragos. Geralmente elas são provocadas pela falta de boas chuvas nas semanas seguintes ao plantio do milho, do feijão e do algodão.

O plantio é feito logo depois das primeiras chuvas do verão. A germinação e o crescimento das plantinhas dependem da continuidade das chuvas, na quantidade exata. Se as chuvas se reduzem, o calor e a insolação matam as lavouras que acabaram de germinar. Quando volta a chover, o camponês faz novas plantações. Mas, se as chuvas cessam novamente começa a tragédia.

A essa altura, o camponês não tem mais dinheiro ou crédito nos bancos. Não consegue, por isso, recomeçar o plantio. O milho e o feijão guardados do ano anterior são consumidos. Sem dinheiro e sem alimentos, resta esperar a ajuda do governo ou então tomar rumo das cidades. Assim, o sertanejo vira retirante.

As cercas e a indústria da seca

As secas são fenômenos naturais, antigos e inevitáveis. Mas a natureza não é culpada pelos desastres que elas provocam. Esses desastres poderiam ser evitados se a economia e a sociedade do Sertão estivessem organizadas de outra forma.

A agricultura sertaneja está baseada no cultivo de alguns produtos alimentares - como o milho e o feijão - que não se adaptam bem à irregularidade das chuvas e aos duros solos ressecados.

A economia sertaneja está baseada nas grandes propriedades de criação de gado. Nesses latifúndios, vivem os trabalhadores rurais e sua famílias, recebendo um salário miserável para cuidar do gado e das plantações dos fazendeiros. Além disso, cultivam pequenas lavouras alimentares para o consumo familiar, em lotes de terra junto às suas casas.

As secas não atingem igualmente a todos. Nas grandes secas, os trabalhadores rurais perdem suas colheitas, mas o gado do fazendeiro geralmente consegue se salvar, consumindo a água armazenada nos açudes. Também o algodão seridó, principal produto das plantações comerciais dos latifúndios, resiste à seca.

Historicamente, as políticas dos governos federais e estaduais contribuíram para manter a desigualdade na distribuição da terra e dos recursos produtivos. Nunca se realizou uma reforma agrária para permitir aos camponeses o acesso a propriedades de dimensões adequadas. Nunca se estimulou a mudança da agricultura sertaneja, promovendo-se o plantio de produtos mais adaptados à irregularidade das chuvas. As políticas governamentais se limitaram a combater a falta de água.

No começo do século XX nasceu o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), órgão do governo federal destinado a construir açudes no interior do Nordeste. Atualmente, existem mais de mil açudes, mas a miséria e as migrações continuam a caracterizar o Sertão. Os açudes ajudam a salvar os rebanhos, mas não impedem a perda das lavouras alimentares. Cerca de quinhentos açudes, construídos com recursos do governo, localizam-se em latifúndios. A população pobre não tem acesso à água, mas as terras dos fazendeiros se valorizaram.

Nas grandes secas, o governo federal distribui cestas de alimentos e abre frentes de trabalho de emergência. Essas ações, que parecem ser uma ajuda para a população pobre, assinalam o funcionamento da "indústria da seca".

As cestas de alimentos são distribuídas pelos políticos locais, pelos prefeitos e vereadores das cidades sertanejas. Em geral, esses políticos são parentes ou amigos dos fazendeiros. Muitas vezes, o próprio latifundiário, conhecido como o "coronel", exerce o cargo de prefeito. As cestas de alimentos transformam-se em votos nas eleições, garantindo a continuidade do poder da elite.

As frentes de trabalho empregam camponeses que perderam as suas safras. Por salários muito baixos, esses trabalhadores constróem açudes e abrem estradas. Os açudes servirão para manter vivo o gado dos latifúndios na próxima seca. As estradas ajudam a transportar os produtos comerciais das fazendas. A seca pode ser um ótimo negócio... para alguns!

d) O Meio-norte

Abrange os estados do Piauí e o Maranhão. Do ponto de vista natural, é uma sub-região entre o Sertão semi-árido e a Amazônia equatorial.

Essa sub-região apresenta clima tropical, com chuvas intensas no verão. No sul do Piauí e do Maranhão, aparecem vastas extensões de cerrado. No interior do Piauí existem manchas de caatinga. No oeste do Maranhão, começa a floresta equatorial. Por isso, nem todo o Meio-Norte encontra-se no complexo regional nordestino: a parte oeste do Maranhão encontra-se na Amazônia.

O Meio-Norte exibe três áreas diferentes, tanto pela ocupação como pela paisagem e pelas atividades econômicas.

O sul e o centro do Piauí, dominados pela caatinga, parecem uma continuação do Sertão. Essa área foi ocupada pela expansão das fazendas de gado, que vinham do interior de Pernambuco e do Ceará. A atividade pecuarista foi a responsável pela fundação de Teresina, a única capital estadual do Nordeste que não se localiza no litoral.

O Vale do Parnaíba é uma área especial. Recoberto pela Mata dos Cocais, tornou-se espaço de extrativismo vegetal do óleo do babaçu e da cera da carnaúba. Essas palmeiras não são cultivadas. A exploração dos seus produtos consiste apenas no corte das folhas da carnaúba e em recolher os cocos do babaçu que despencam da árvore.

Nas áreas úmidas do norte do Maranhão, situada já nos limites da Amazônia, formaram-se fazendas policultoras que cultivam o arroz como principal produto. As chuvas fortes e as áreas semi alagadas das várzeas dos rios Mearim e Pindaré apresentam condições ideais para a cultura do arroz.

A AMAZÔNIA LEGAL

O ecossistema da floresta equatorial - associado aos climas quentes e úmidos e assentado, na sua maior parte, no interior da bacia fluvial amazônica - permite delimitar uma região natural. Essa região é a Amazônia Internacional, que abrange cerca de 6,5 milhões de quilômetros quadrados em terras de nove países.

Do ponto de vista do Estado contemporâneo, o exercício da soberania exige a apropriação nacional do território. As áreas pouco povoadas e caracterizadas pelo predomínio de paisagens naturais, especialmente quando adjacentes às fronteiras políticas, são consideradas espaços de soberania formal, mas não efetiva. A consolidação do poder do Estado sobre tais espaços solicita a sua "conquista": povoamento, crescimento econômico, desenvolvimento de uma rede urbana, implantação de redes de transportes e comunicações. O empreendimento de "conquista" envolve, portanto, um conjunto de políticas territoriais.

No Brasil, o estabelecimento de políticas territoriais coerentes associou-se à centralização política iniciada com a "revolução " de 1930 e desenvolveu-se no quadro da industrialização acelerada do pós-guerra. O planejamento regional na Amazônia foi deflagrado em 1953, com a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA).

Com a SPVEA surgiu a Amazônia Brasileira, que correspondia, grosso modo, à porção da Amazônia Internacional localizada em território brasileiro. Não era, contudo, uma região natural, mas uma região de planejamento, pois a sua delimitação decorria de um ato de vontade política do Estado. As regiões naturais são limitadas por fronteiras zonais, ou seja, por faixas de transição entre ecossistemas contíguos. As regiões de planejamento ao contrário, são delimitadas por fronteiras lineares, que definem rigorosamente a área de exercício das competências administrativas.

O planejamento regional para a Amazônia ganhou novo impulso após a transferência da capital federal e a construção da rodovia Belém-Brasília. Em 1966 o SPVEA era extinto e, no seu lugar, criava-se a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). A lei que criou a Sudam redefiniu a Amazônia brasileira, que passava a se denominar Amazônia Legal. A região de planejamento perfaz superfície de 5,2 milhões de quilômetros quadrados, ou cerca de 61% do território nacional.

A "conquista" da Amazônia

As políticas territoriais para a Amazônia, sob o regime militar, concebiam a região como espaço de fronteira, num triplo sentido.

Na condição de fronteira política, o Grande Norte abrangia largas faixas pouco povoadas adjacentes aos limites do Brasil com sete países vizinhos. Essas faixas configuravam "fronteiras mortas", ou seja, áreas de soberania formal mas não efetiva do estado brasileiro. O empreendimento da "conquista" da Amazônia tinha a finalidade de construir as bases para o exercício do poder nacional nas faixas de fronteiras.

Na condição de fronteira demográfica, o Grande Norte deveria ser povoado por excedentes populacionais gerados no Nordeste e no Centro-Sul. As rodovias de integração - a Belém-Brasília, a Transamazônica, a Brasília-Acre e a Cuiabá-Santarém - destinavam-se a orientar os fluxos migratórios para a "terra sem homens".

Na condição de fronteira do capital, o Grande Norte deveria atrair volumosos investimentos transnacionais voltados para a agropecuária, a mineração e a indústria. Sob a coordenação da Sudam, a Amazônia Legal transformou-se em vasto cenário de investimentos incentivados por recursos públicos.

Os projetos minerais e industriais concentraram-se em Belém e seus arredores e na Zona Franca de Manaus (ZFM). Os projetos florestais e agropecuários, mais numerosos, concentraram-se no Mato Grosso e sobre o eixo da Belém-Brasília, abrangendo o Tocantins, o sul do Pará e o oeste do Maranhão. Os incentivos totalizavam, em geral, metade dos recursos necessários para os projetos agropecuários. O desmatamento e a formação de pastagens extensivas era classificado como benfeitoria, assegurando direito aos incentivos.

Em meados da década de 70, a Sudam passou a aprovar somente megaprojetos, em glebas gigantes. Sob essa política de incentivos, multiplicaram-se os latifúndios com áreas superiores a 300 mil hectares. Até 1985, mais de 900 projetos foram aprovados pela Sudam. A legislação vigente nesse período determinava que a devolução dos recursos públicos recebidos por projetos cancelados não envolveria juros ou correção monetária. Desse modo, em ambiente econômico inflacionário, abandonar projetos incentivados tornou-se negócio altamente lucrativo.

As políticas que orientaram a "conquista da Amazônia" geraram um conflito entre dois tipos de ocupação do espaço geográfico. O povoamento tradicional, gerado pelo extrativismo, consistia numa ocupação linear e ribeirinha, assentada na circulação fluvial e na rede natural de rios e igarapés. O novo povoamento consistia numa ocupação areolar, polarizada pelos núcleos urbanos em formação e pelos projetos florestais, agropecuários e minerais.

Esse conflito expressou-se, de um lado, como tensão social envolvendo índios, posseiros e grileiros. Desde a década de 1970, as disputas pela terra configuraram um "arco de violência" nas franjas orientais e meridionais da Amazônia (Bico do Papagaio, Rondônia, etc.).

De outro lado, o conflito expressou-se pela degradação progressiva dos ecossistemas naturais. Um "arco da devastação", que apresenta notáveis sobreposições com o "arco da violência", assinala os vetores da ocupação recente do Grande Norte. Nos estados de Tocantins, Pará e Maranhão, a devastação antrópica atinge formações de cerrados, da floresta Amazônica e da Mata dos Cocais. No Mato Grosso e Rondônia, manifesta-se com intensidade nos cerrados, na floresta Amazônica e nas largas faixas de transição entre esses dois domínios, onde se descortinam manchas de florestas com babaçu.

O planejamento em ação: Carajás

A Amazônia Oriental é constituída pelos estados do Pará, Amapá, Mato Grosso, Tocantins e pelo Oeste do Maranhão. Ela abrange as mais extensas áreas de modificação antrópica das paisagens naturais. Essas áreas concentram-se principalmente no estado de Mato Grosso e em torno do eixo de transportes formado pela Belém-Brasília e pela E. F. Carajás.

No final da década de 1950, a transnacional estadunidense U. S. Steel, por intermédio da sua subsidiária Companhia Meridional de Mineração, deflagrou um ambicioso plano de pesquisas na Amazônia, com a finalidade de descobrir reservas de manganês. A transnacional atuava numa moldura mais ampla, formada pelos acordos de cooperação técnica entre EUA e o Brasil, cuja raiz era o interesse de Washington de controlar fontes de matérias-primas industriais escassas.

A descoberta dos minérios da Serra dos Carajás deve-se a Breno Augusto dos Santos, um dos geólogos brasileiros contratados pela Companhia Meridional de Mineração. Em 1967, em meio a pesquisas de campo no Pará, o helicóptero que conduzia o geólogo pousou numa clareira de Serra Arqueada, que é parte da formação de Carajás. Ali, ele descobriu uma extensa camada superficial de hematita, que indicava o incomensurável potencial mineral da área. Nos dois meses seguintes, o reconhecimento de diversas clareiras sinalizou a presença da maior reserva de minério de ferro do mundo.

Então, o Estado brasileiro desencadeou uma operação destinada a implantar um vasto programa de desenvolvimento regional baseado nos fantásticos recursos naturais daquela província mineral. Em 1970, foi formado um consócio entre a CVRD e a U. S. Steel para a exploração dos minérios de Carajás. Sete anos depois, divergências entre os sócios e um certo desinteresse da transnacional pelas jazidas de ferro provocaram a dissolução do consórcio. Sob o controle da então estatal CVRD, era lançado o Programa Grande Carajás (PGC).

O PGC assinalou uma inflexão na economia e na organização do espaço geográfico do leste do Pará e no oeste do Maranhão. As grandes obras de infra estrutura construídas em poucos anos - a E. F. Carajás, através de 890 quilômetros, o Porto de Itaqui, capaz de receber graneleiros de até 280 mil toneladas, em São Luís, e a Hidrelétrica de Tucuruí, rio Tocantins - atraíram significativos fluxos migratórios e geraram o surgimento de diversos novos núcleos urbanos.

No coração do PGC estão as instalações de extração dos minérios, o terminal ferroviário de carga e os núcleos urbanos de Serra dos Carajás. A Vila de Carajás, no topo da serra, foi projetada para abrigar os funcionários da CVRD. Parauapebas, no sopé da serra, foi projetada para servir de residência à mão de obra temporária: os trabalhadores braçais que construíram os dois núcleos e as estradas de acesso. Ao lado do núcleo de Parauapebas, planejado para 5 mil habitantes, os fluxos migratórios impulsionaram o crescimento espontâneo do povoado de Rio Verde, que já abriga mais de 29 mil habitantes.

O Projeto Ferro Carajás é a ponta de lança do PGC. Gerenciado pela CVRD, ele produz cerca de 35 milhões de toneladas anuais de minério, exportadas principalmente para o Japão. Ao longo da ferrovia, foram aprovados diversos projetos de instalação de indústrias siderúrgicas primárias, de ferro-gusa e ferro-liga. Assim, embrionariamente, aparecem núcleos industriais nas áreas de Marabá (PA), nas proximidades das reservas de matérias primas, e nas áreas da Baixada Maranhense, nas proximidades do Porto de Itaqui.

Esses projetos beneficiam-se dos vastos excedentes regionais de mão de obra, inicialmente atraídos pelas grandes obras de infra estrutura e que hoje demandam empregos. Contudo, na falta de adequado planejamento dos impactos ambientais, tendem a gerar inúmeros focos de poluição do ar e dos rios. Além disso, em função da opção pelo uso de carvão vegetal para queima nos fornos siderúrgicos, a implantação dos núcleos industriais previstos deve acarretar aceleração do desflorestamento.


RODRIGO BANDEIRA LOPES - Colégio Delta

28.7.06

O Desafio para a Conservação da “Mata Atlântica”


por Flavio Guiera



Sempre que sou questionado sobre um tema que cerca a “Mata Atlântica” costumo retrucar, em primeiro lugar, que a Floresta Atlântica não é mata, é floresta, assim como a Amazônica que tem tal status na boca do povo. Em segundo, questiono eu, a que tipo de bioma o tema se refere? Pois a Floresta Atlântica em que mergulho a cada descida da Serra do Mar ou da Paranapiacaba, rumo a Curitiba, tem diferenças tão díspares da região de Floresta de Araucária em que nasci e maiores ainda com a região de Floresta Estacional em que moro atualmente, que não há como colocar todas em um mesmo saco e definir que tudo isto faz parte de uma só “Mata Atlântica”. Não consigo engolir o Mapa de Biomas do Brasil, encomendado ao IBGE pelos Ministérios do Meio Ambiente e do Planejamento, Orçamento e Gestão, como uma ferramenta útil para efeitos de conservação da biodiversidade, manejo e desenvolvimento do País.

Infelizmente, a generalização da nomenclatura é uma das menores a que estão sujeitas todas as diferentes regiões fitoecológicas – que são os verdadeiros biomas – que compõem o que o Decreto 750/93 definiu, no grito, como Mata Atlântica.

Mas, e na prática? O que fazer dos últimos fragmentos de uma vegetação que possui somente 7,3% de sua cobertura original? E ainda mais, sabendo-se que agrega a região fitoecológica de maior biodiversidade no planeta, a verdadeira Floreta Atlântica (Floresta Ombrófila Densa, IBGE 1992)? Os proprietários rurais e comunidades que dela dependem para sua sobrevivência clamam pela liberação para o manejo e pela conversão do excedente ao que exige o Código Florestal. A sociedade urbana quer a preservação e sua restauração.

Para a preservação será criada, nos próximos 2 anos, uma bateria de Unidades de Conservação. Só em Floresta de Araucária serão oito, e dessas, apenas uma de uso sustentável. Estão sendo prospectadas as áreas com maior representatividade e áreas melhor conservadas. Convenhamos, neste âmbito, que as desapropriações para instituição de UC's jamais indenizaram os proprietários de forma justa, considerando o valor dos produtos que lá estão. Também pudera, pois só a área do futuro Parque Nacional das Araucárias que deve abranger o sul do Paraná e o norte de Santa Catarina, esvaziaria os cofres públicos da União numa só tacada. Convenhamos ainda que, somente 20% das UC's de nível federal possuem um conselho consultivo (Proteção Integral) ou deliberativo (uso sustentável) formado, conforme exige o sensacional SNUC na implementação dos planos de manejo. Com estas considerações, não se acena grandes perspectivas em curto prazo para nossa lamentada mata, já que uma enxurrada de ações judiciais certamente se acumularão nos tribunais antes de conhecermos qualquer plano de manejo para as áreas. Contudo, acredito no SNUC como uma ótima ferramenta de preservação de áreas com alto valor biológico quando o tiramos do plano das idéias.

Para a restauração, os Órgãos de Meio Ambiente estão com uma verdadeira batata quente nas mãos. As exigências de revegetação e averbação das áreas de Reserva Legal acabam por banalizar ainda mais os famosos Termos de Ajustamento de Conduta (TAC's), pois amontoam-se às pilhas junto a toda burocracia governamental e, em campo, o que se nota é uma insípida brincadeira de plantar árvores nativas, 1/30 da área por ano. E o pior, uma brincadeira completamente descoordenada. Agrava-se a situação com um esquema de CRF (cotas de reserva florestal) que mais parece uma colcha de retalhos, puxando pedacinhos daqui e averbando acolá, sem critérios em favor da conservação dos biomas ou das bacias hidrográficas.

Olhando para o lado dos proprietários rurais que possuem suas reservas nativas ou até excedentes aos mínimos 20% exigidos além das áreas de preservação permanente, as perspectivas de utilização comercial destas áreas se resumem à colheita da erva mate e parcos projetos de manejo de palmito. Conversão para uso não florestais? Nem pensar. Resta-lhes também o turismo ecológico, que requer mão de obra especializada, infra-estrutura arrojada, belos cenários e uma boa vontade de levar prejuízos vez ou outra. Se houvesse, ainda, a possibilidade do turismo de caça, que tem uma força de impulso internacional dezenas de vezes maior que o turismo ecológico, sem comentar os rendimentos. Mas aqui, a caça é crime. Nos países de primeiro mundo, é esporte, e rende anualmente uma pequena fortuna aos proprietários de, também pequenas, florestas na Inglaterra, por exemplo. Neste caso, o interesse em que a floresta se mantenha e melhore a cada ano, é do proprietário e não da sociedade, não dos ambientalistas de carteirinha. Só assim sua pequena fortuna anual estará garantida, e junto com ela sua safra de trigo, canola etc, sem depender dos bancos ingleses.

Ora, se estamos tratando da região com a maior biodiversidade do planeta, o “ Homo sapiens brasilis” mais uma vez atesta sua incompetência no uso dos recursos com os quais fomos privilegiados. A proibição ao aproveitamento destas áreas para o manejo dos infindáveis produtos proporcionados nas florestas, reflete na indisponibilidade de modelos de desenvolvimento que busquem a sustentabilidade com base nesta riqueza natural. Como não se tem modelos, não é possível aprovar nenhum plano de manejo que ofereça padrões mínimos de sustentabilidade e se fecha um círculo vicioso onde todos saem perdendo. A floresta perde por não ser valorizada por quem a detém e a sociedade perde a chance de se redimir da furiosa devastação que empreendeu durante o século XX, tentando, desta vez, achar o caminho certo.

Sabe-se das limitações dos últimos fragmentos em fornecer produtos madeireiros, por exemplo. Mas é exatamente aí em que a oportunidade se escancara em nossa porta. Esta é a chance de nos especializarmos, tirar “leite da pedra”, pois, se fomos tão competentes em plantar espécies de árvores exóticas e faze-las aumentar em média 25% seu incremento em menos de 30 anos, se já experimentamos com a transgenia florestal, de que seremos capazes com as florestas naturais do sul do Brasil em 50 anos? Jamais saberemos sem tentar.

A única saída para a conservação da pobre rica “Mata Atlântica” é o aproveitamento de seus produtos de forma economicamente viável, ambientemente correta, socialmente benéfica, conforme a Carta para o Desenvolvimento Sustentável de 1992. Somente com a valorização dos últimos remanescentes florestais e a implementação de modelos produtivos que tomem em conta tais regras é que vislumbro o Brasil chegar ao final do século XXI com uma área florestal nativa maior do que os níveis atuais na “Mata Atlântica” e ainda, de quebra, ser a referência mundial ao sonhado modelo de desenvolvimento sustentável.
Fonte: Flavio Guiera (31) é Engenheiro Florestal, formado em 1996 pela UFPR. Atualmente coordena os processos de certificação florestal FSC/SmartWood, através do IMAFLORA, para empreendimentos de base florestal plantada.

Fonte: Ambiente Brasil

O Cerrado não morreu



por Lorenzo Aldé

O Cerrado vai desaparecer até 2030. A notícia espalhou-se em alarmantes manchetes na imprensa e, como veio, passou. O sombrio anúncio foi feito em um relatório divulgado em julho pela Conservação Internacional do Brasil, com o título “Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro”.

Mas o estudo - primeiro mapeamento em larga escala de um bioma brasileiro, baseado em imagens de satélite - não empaca no pessimismo. Além de evidenciar a ininterrupta diminuição da cobertura vegetal do Cerrado, num ritmo de 2,2 milhões de hectares a menos por ano, traz informações relevantes sobre a biodiversidade do segundo maior bioma nacional, trata das transformações produtivas que acarretaram a degradação de algumas áreas e pouparam outras, e apresenta sugestões para preservar o que resta e recuperar o que já está comprometido.

Os dados a partir de 1995 não deixam dúvidas: a soja é o maior vilão do atual desmatamento do Cerrado. Em sete anos, a área de cultivo praticamente dobrou de tamanho. Mas os autores do estudo sustentam que o principal problema, quando o assunto é agricultura, são as “políticas públicas conduzidas de forma antagônica”. Explica-se:

Se por um lado o Ministério do Meio Ambiente - MMA trabalha para que o percentual de áreas protegidas no Cerrado aumente para um patamar maior (hoje as unidades de conservação representam 2,2% da área original do Cerrado), o Ministério da Agricultura trabalha com uma perspectiva de utilização de aproximadamente 100 milhões de hectares adicionais para a expansão da agricultura.

Daí a necessidade de um “pacto político” entre ministérios, estados e sociedade para implementar as dez ações remediadoras sugeridas, concentradas em mais recursos, mais áreas protegidas, formação de recursos humanos e investimento na economia local, com ênfase em cultivos originais de cada região.

Para quem não se conforma em adotar o luto com 26 anos de antecedência, vale conhecer a íntegra do relatório Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro.

Pantanal





A CIMA - Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-SI/PR, 1991, define o Pantanal mato-grossense como “a maior planície de inundação contínua do planeta”. Sua localização geográfica é de particular relevância, uma vez que representa o elo de ligação entre o Cerrado, no Brasil Central, o Chaco, na Bolívia, e a região Amazônica, ao Norte, identificando-se, aproximadamente, com a bacia do alto Paraguai.

O Pantanal funciona como um grande reservatório, provocando uma defasagem de até cinco meses entre as vazões de entrada e saída. O regime de verão determina enchentes entre novembro e março no norte e entre maio e agosto no sul, neste caso sob a influência reguladora do Pantanal.

Os solos, de modo geral, apresentam limitações à lavoura. Nas planícies pantaneiras sobressaem solos inférteis (lateritas) em áreas úmidas (hidromórficas) e planossolos, além de várias outras classes, todos alagáveis, em maior ou menor grau, e de baixa fertilidade. Nos planaltos, embora predominem também solos com diversas limitações à agricultura, sobretudo à fertilidade, topografia ou escassez de água, existem situações favoráveis.

Como área de transição, a região do Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemas terrestres, com afinidades, sobretudo, com os Cerrados e, em parte, com a floresta Amazônica, além de ecossistemas aquáticos e semi-aquáticos, interdependentes em maior ou menor grau. Os planaltos e as terras altas da bacia superior são formados por áreas escarpadas e testemunhos de planaltos erodidos, conhecidos localmente como serras. São cobertos por vegetações predominantemente abertas, tais como campos limpos, campos sujos, cerrados e cerradões, determinadas, principalmente, por fatores de solo (edáficos) e climáticos e, também, por florestas úmidas, prolongamentos do ecossistema amazônico.

A planície inundável que forma o Pantanal, propriamente dito, representa uma das mais importantes áreas úmidas da América do Sul. Nesse espaço podem ser reconhecidas planícies de baixa, média e alta inundação, destacando-se os ambientes de inundação fluvial generalizada e prolongada. Esses ambientes, periodicamente inundados, apresentam alta produtividade biológica, grande densidade e diversidade de fauna.

A ocupação da região, de acordo com pesquisas arqueológicas, se deu há, aproximadamente, dez mil anos por grupos indígenas. A adequação de atividades econômicas ao Pantanal surgiu do processo de conquista e aniquilamento dos índios guatós e guaicurus por sertanistas. Foi possível implantar a pecuária na planície inundável, que se tornaria a única economia estável e permanente até os nossos dias. Dentro de um enfoque macroeconômico, a planície representou, no passado, um grande papel no abastecimento de carne para outros estados do país. No entanto, esta economia se encontra em decadência.

Uma série de atividades de impacto direto sobre o Pantanal pode ser observada, como garimpo de ouro e diamantes, caça, pesca, turismo e agropecuária predatória, construção de rodovias e hidrelétricas. Convém frisar a importância das atividades extensivas nos planaltos circundantes como uma das principais fontes de impactos ambientais negativos sobre o Pantanal.

O processo de expansão da fronteira, ocorrido principalmente após 1970, foi a causa fundamental do crescimento demográfico do Centro-Oeste brasileiro. A região da planície pantaneira, com sua estrutura fundiária de grandes propriedades voltadas para a pecuária em suas áreas alagadiças, não se incorporou ao processo de crescimento populacional. Não houve aumento significativo em número ou população das cidades pantaneiras. No planalto, contudo, o padrão de crescimento urbano foi acelerado. Como todas as cidades surgidas ou expandidas nessa época, as de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não tinham e nem têm infra-estrutura adequada para minimizar o impacto ambiental do crescimento acelerado, causado, principalmente, pelo lançamento de esgotos domésticos ou industriais nos cursos d’água da bacia. Esse tipo de poluição repercute diretamente na planície pantaneira, que recebe os sedimentos e resíduos das terras altas.

O mesmo processo de expansão da fronteira foi responsável pelo aproveitamento dos cerrados para a agropecuária, o que causou o desmatamento de vastas áreas do planalto para a implantação de lavouras de soja e arroz, além de pastagens. O manejo agrícola inadequado nessas lavouras resultou, entre outros fatores, em erosão de solos e no aumento significativo de carga de partículas sedimentáveis de vários rios. Além disso, agrava-se o problema de contaminação dos diversos rios com biocidas e fertilizantes.

A presença de ouro e diamantes na baixada cuiabana e nas nascentes dos rios Paraguai e São Lourenço vem atraindo milhares de garimpeiros, cuja atividade causa o assoreamento e compromete a produtividade biológica de córregos e rios, além de contaminá-los com mercúrio.

Segundo a WWF (1999), existem no Pantanal 650 espécies de aves, 80 de mamíferos, 260 de peixes e 50 de répteis.

Glossário geológico

Geografia 1º Ano Professor Jéferson Pitol Righetto: Glossário geológico

Informações Climáticas

Informações Climáticas: "Massas de ar no Brasil

As massas de ar são porções individualizadas do ar atmosférico que trazem em suas características e propriedades, as condições gerais do tempo dos locais onde se formam. O deslocamento das massas são provocados pela diferença de pressão e temperatura entre as diversas áreas da superfície. Portanto, as massas de ar estão geralmente associadas a sistemas de baixa e alta pressão. As áreas de baixa pressão são receptoras de ventos e com grande instabilidade atmosférica caracterizada por grande nebulosidade e precipitação elevada. Já as áreas de alta pressão tendem a ter menores temperatura e são dispersoras de ventos, portanto tem em sua característica não ter nebulosidade e possuir estabilidade atmosférica."